Oncologia
Alimentação e Gestão do Peso durante os tratamentos: um caso que dá que pensar?
A Desnutrição (associada à doença oncológica) é um problema palpável e crescente na Europa e em Portugal: afeta 1 em cada 3 doentes oncológicos.
Estima-se que 10 a 20 % das mortes por doença oncológica se devam à desnutrição associada à doença e não ao cancro per si.
Um caso sério que necessita da maior atenção , que está já subdiagnosticada e tem implicações importantes no prognóstico do doente: maior risco de infeções e complicações. Mais sintomatologia secundária; internamentos mais frequentes e mais prolongados; menor tolerância aos tratamentos e, por consequência, com mais interrupções.
A perda de peso (e de massa muscular) é um critério determinante na desnutrição e é um sintoma frequente em qualquer tipo de cancro. A localização do tumor pode desde logo indicar um maior ou menor risco de desnutrição: tumores que se localizam na zona cabeça-pescoço, sistema digestivo ou aparelho respiratório apresentam um maior risco nutricional com prevalências de desnutrição que rondam os 40 a 50 %, comparativamente a outras localizações (ex.: cancro da mama, que ronda os 18 %).
Adicionalmente, com a progressão do cancro e dos próprios tratamentos, a desnutrição (e a perda de peso) vai-se tornando mais marcada como resultado da perda de apetite: começam a exacerbar-se as alterações do paladar e do olfato, muitas vezes a sensação de enfartamento ou saciedade com pequenas porções de comida, alterações gastrointestinais (nomeadamente diarreia) ou dificuldades em mastigar e ou engolir (disfagia) que, associadas à fadiga e cansaço extremo, podem tornar os momentos das refeições um autêntico desafio. Há um comprometimento da ingestão ao nível da energia (kcal) e das proteínas necessárias para esta fase, onde muitas vezes a perda de peso ainda é invisível a olhonu mas, de facto, já está a ocorrer uma perda de massa e força muscular indesejáveis.
É certo que as proteínas desempenham um papel absolutamente essencial na manutenção e construção de massa muscular, capacitando o doente com mais força e mais autonomia para realização de atividades diárias.
São várias as sociedades médico-científicas que se têm dedicado ao estudo da melhor abordagem nutricional no doente oncológico em tratamento ativo, já que a nutrição é reconhecida como um pilar essencial dos cuidados de suporte prestados a estes doentes.
A par e passo da fortificação alimentar e da prática de exercício físico, os suplementos nutricionais orais (SNO) são reconhecidos pelas mesmas como aliados muito úteis uma vez que são soluções altamente concentradas que em pequenos volumes aportam os nutrientes necessários para travar a perda muscular, reverter a desnutrição e atingir os objetivos nutricionais estabelecidos pelo profissional de saúde.
Para maior sucesso, é importante eleger um sabor com o qual se identifica (se gosta de café é mais provável que me adapte melhor ao suplemento com sabor a café) e dar asas à imaginação para quebrar a monotonia do dia-a-dia: congelar o suplemento em pequenos recipientes e assim criar um gelado que alivia a sensação de queimadura; incorporar num leite-creme depois de retirar do lume para recordarmos aquela sobremesa especial; ou até mesmo servir num copo com um pouco de canela e umas pedras de gelo.
O acesso aos cuidados nutricionais é um direito do doente. Contudo, apenas 30 % a 60 % dos doentes diagnosticados com desnutrição recebem apoio nutricional, perdendo-se a oportunidade de minimizar as interrupções dos tratamentos e de sintomatologia secundária.
Estar atento aos sinais de alerta (perda de peso, perda de força, perda de apetite, entre outros), pode ser o trigger para lançar um pedido de apoio às equipas multidisciplinares que o seguem e receber uma intervenção nutricional adequada à sua condição.
Mafalda Quelhas
Nutricionista |Cédula Profissional 2634N
Medical&Scientific Affairs | Nestlé Health Science

